Letters in Store

Thursday, November 24, 2005

VIDERE


Não queria olhar. Preferia estar absorto, noutro lugar, inerte para este mundo. Não me apetecia sentar naquele lugar (com tanto sítio que havia) e fiquei arrependido. Levantar-me seria sinal de fraqueza. Ficar, sinal da minha presença.

Indesejados os dois, os nossos corpos encontraram-se naquele lugar. Não me apetecia, entediava-me o presente, apenas pretendia terminar a refeição.

Era algo familiar aquele corpo, aquela cara, aquelas curvas e contornos. Mas não sabia situar. Calmamente almoçava e o olhar cruzava-se ocasionalmente...havia algo desconhecido naquele reconhecimento estranho. Um onde, um porquê, um quando. E a constante questão: "Onde é que eu já te vi?"

Levantou-se e seguiu o seu caminho. Minutos mais tarde seria a minha vez. Caminhos opostos seguimos, e não nos arrependemos. Não houve carta, telefone,sms ou mesmo, pasme-se, walki-talki ou pombo-correio. Seríamos para sempre dois desconhecidos, transeuntes de tantas vidas que este mundo conta.

Mais tarde, à noite, lembrei-me daquele olhar...foi no dia em que conheci alguém, um corpo. Pensei conhecer a figura diante de mim, mas votou-se ao silêncio e indiferença. O olhar mudara, o sorriso perdera o lugar e a voz o sentimento.

Indiferença. Como desprezo. Lembras-te? Eu recordo aquele dia e hora. Mas é melhor esquecer...enquanto há tempo.

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