Letters in Store

Saturday, November 26, 2005

Lisboa


Percorro a Baixa como ritual. Faz tempo que não percorria estas ruas.
Os vendedores de castanhas, quais fábricas, deixavam no ar a nuvem de cheiro a castanha. Outros, vendiam chapéus. Atomáticos, diziam eles. (Ao fim de três pressões do botão, automaticamente iria um chapéu para o lixo.) Os ilustradores junto ao arco da Rua Augusta não fizeram grande negócio. "Puta da chuva!", reclamavam, atribuindo à crise e ao tempo a razão dos seus males.
Pára. Arranca. Insultar. O trânsito em Lisboa é outra das prendas que a cidade tem para quem nela habita ou trabalha. Mas esta prenda não dura só no Natal. Horas dentro de um carro podem ser cansativas física e mentalmente...daí que ontem, no Largo Camões, ao esperar pelo semáforo, a fila de carros buzinantes, deixou perceber uma voz feminina que marcadamente dizia:"Anda lá com essa merda, foda-se!"
Isto sim, é Lisboa. Não vivemos só dos Santos Populares, mas da realidade diária daquilo que, ironicamente, já no carro, a caminho da 2a circular me deparei. Ao pensar no trânsico caótico e compacto, dizia para mim mesmo "Fogo, isto (o trânsito) é mesmo um..." (nisto olho pelo espelho retrovisor letras luminosas garrafais de um autocarro "CALVÁRIO"). Nada mais apropriado.
Sem dúvida, Lisboa, quem te ama passa por um Calvário diário. Mas olhar para ti em dia de Verão num miradouro e ver o rio que te beija, é que vejo bem a Paixão pelo Portugal que habitas e com a qual contagias quem te ama.

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