Letters in Store

Thursday, April 10, 2008

(A um verdadeiro poeta...que muito me ensinou)
O seu nome indicava nobreza, mas esta não lhe corria no sangue. Perdera-se inúmeras vezes em labirintos de pensamentos e sentimentos cujos becos anunciavam a Dor pelo (des)conhecido, pela vida que se queria revelada ante os olhos...mas a vista não alcança o que o coração fecha dentro de si.
Era um rapaz, este António. Antónimo de si, buscava refúgio no povo à deriva, doente e ciente da morte em cada esquina, esperando, murmurando sílabas que imitavam - quase lhe parecia - o seu nome. Rejeitava a cidade, antro de de corruptos promíscuos e meretrizes, fantasmas que não mentem nas mentes de um país pequeno.
E nisto o refúgio de um baloiço era a viagem almejada em cada palavra escrita no papel: a criança que chora pelo findar do dia e a noite que revela o adulto que só pode - nada mais lhe resta - lembrar-se daquelas vidas pelos campos da sua infância, puxadas pelas carroças da imaginação...E a Lua, que a tudo assiste, sorri maternalmente para o seu Anto, ela, que fora a sua única confidente, já que o Pai calara a sua voz e dele só lhe retirara o silêncio, - e como era benção e castigo para o pobre menino- , ser poeta era o Fado que o libertava e condenava ao nobre poeta que soube ser.
'Onde estás?'
'Estás só', dizia-lhe o Pai, no meio das sombras do leito.
E o baloiço da infância marcava o passo rumo ao destino já escrito nas estrelas: o sono nos braços da Noite, musa para a voz que sonhava ao som da roca...a melodia da sua poesia.
E deixou-se adormecer.

3 Comments:

  • Gostei muito do teu texto.Gostaria de ter a tua facilidade de escrita para poder deixar aqui um comentário à altura... Continua, a fazer-me voar nas asas da tua imaginação! Obrigada.

    By Anonymous Anonymous, at 5:47 AM  

  • António Nobre... Sempre foi dos meus preferidos, assim como este poema tão seu...

    Deus fez a noite com o teu olhar,
    Deus fez as ondas com os teus cabelos;
    Com a tua coragem fez castelos
    Que pôs, como defesa, à beira-mar.

    Com um sorriso teu, fez o luar
    (Que é sorriso de noite, ao viandante)
    E eu que andava pelo mundo, errante,
    Já não ando perdido em alto-mar!

    Do céu de Portugal fez a tua alma!
    E ao ver-te sempre assim, tão pura e calma,
    Da minha noite, eu fiz a Claridade!

    Ó meu anjo de luz e de esperança,
    Será, em ti afinal que descansa
    O triste fim da minha mocidade!

    By Blogger Catarina, at 12:36 AM  

  • Olá. Gostei tanto do que escreveste que tomei a liberdade de o colocar no meu blog (espero que não haja problema), para que mais pessoas possam conhecer o teu trabalho, o qual acompanho há algum tempo.
    Abraço
    fx

    By Blogger Unknown, at 3:05 PM  

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