
Não se encontravam em público nem em privado. Deixara de fazer sentido. Tornaram-se mundanos, assim pensavam, e nada justificava a permanência naquele enlace social. Para quê ou porquê persistir na encenação?
À noite, em segredo, meditavam nestes sentimentos ou na ausência deles um pelo outro. Cada um revolvia no seu mundo procurando alguma resposta, alguma justificação para ficar...ou, a cada vez maiores espaços de tempo, a divisar um plano que reclamasse por direito o afastamento. Mas o silêncio era para eles o engenho do plano ou a angústia de algo que não sabiam definir.
Por coincidência, alguns diriam, resolveram a mesma solução para o problema no mesmo dia. Não faria sentido continuar a acreditar em mãos que lavravam uma pele que não as queria, nem tão pouco pousar o olhar numa mão que calava os gestos, por cortesia.
Acordaram sempre em tudo, divergindo apenas num ponto. Um desejava do outro o calor da mão a cada gesto. O outro, o pulsar do olhar a cada respiro...Naquela noite em que decidiram revelar o fim ao outro, não souberam colocar em prática as suas decisões. Por isso, cada um escrevera uma carta. Finda a ceia, apresentaram-na ao outro. Um lera-a de uma assentada, o outro soube o seu conteúdo pela forma negligente em que esta lhe fora ofertada. Quiseram despedir-se, pelo menos, mas esta já fora feita há tanto tempo. E nisto deu lugar o lamento, a toada lenta e magoada do inevitável precípicio em que caíram.
Naquele instante perceberam por fim que, quando o olhar se turva na água e a mão seca o seu toque, porque lhes falta algo, mostra-se o verdadeiro indefinível: o corpo que quer e anseia, porque é feito de gestos e olhares, e crendo nesta verdade descobre o quão vago e impreciso é o Amor e como só lhe bastava ter escutado o silêncio das mãos naquele mudo olhar...e como tudo seria diferente para aquele olhar pousado naquelas mãos.
1 Comments:
Como é triste olhar e não sentir nada, ver e não querer beijar, abraçar e poder largar. É tão triste dizer "amo-te" pelo costume, ligar sem querer ouvir nem falar...
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Anonymous, at 4:46 AM
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