Letters in Store

Wednesday, May 03, 2006

Ocean

Era jovem o rapaz.

Mostrava no sorriso aos pais e amigos a vida que transpirava no olhar. E era profundo o olhar, à noite, quando corria as milhas das suas letras, músicas para uma geração - como pretendia- a sua marca no mundo.

Filmava a banalidade, muitos lhe apontavam. Mas era já tarde na noite que o comum se transfigurava em música e a música arte...e a arte na sua vida. Pulsante, vibrante, tímida.

Escondia o ofício de olhares e mãos alheias...medo, talvez, mas certamente a confiança de que algo produtivo se iria produzir neste compasso a trechos únicos, lentamente, calmamente, inocentemente defendidos.

Libertar-se-ia mais tarde do intimismo nocturno e, como maleita, afectá-lo-ia diurnamente. Foram-se os desportos, os convívios e, por fim, os sorrisos. Quedou-se o silêncio da arte. E foi o princípio de tudo.

Ergue agora a cabeça o rapaz, não cedendo ao desespero. Caminha o dia-a-dia num renovado sopro de alegria, um sorriso por dia, acredita, fará contrariar a batalha interior.

"A minha marca no mundo será aquela que eu quiser deixar...não...ainda não terminei. Pausa, ó morte, outro dia, virás. Amanhã será dia de novo, e um novo poema criei, imaginando a vida que agora me queres privar."
Dedico ao amigo S. que recebeu ontem os resultados. Porque a SIDA não ataca a alma, há que mostrar o sorriso que existe em cada um de nós. E partilhá-lo.