Letters in Store

Tuesday, June 13, 2006

Techno Power


Vibrante soava a cadência do relógio. O tempo que passa no rumor dos passos da amada. Era o olhar que o prendia, o contorno bronzeado e sedoso da pele que anseava pela noite de chuva, a cântaros de elegias, e elogios fabricava na mente, compondo livros, epopeias românticas que o mundo calara. Era passado para o mundo. Outra era nascera, a distância instalava-se a cada bater do coração. Autómatos se transfiguravam, metamorfoseando as cores e odores das tintas e da natureza em cabos, em luzes artificiais, em pixeis fascinantes.

Perdera-se no raciocinio, mais uma vez. As dores de cabeça cada vez mais frequentes e intensas anunciavam o imparável destino da caminhada. Não voltaria a sonhar por ela ou tocar-lhe. Deixaria a casa sem calor e fulgor natural. Morriam as plantas a cada dia, a última falecera naquela manhã. Restava ele.

Fechou os olhos azuis uma última vez, respirando fundo a memória daquela musa que lhe trazia a cada manhã o café e , com um beijo leve e doce, lhe agradecia o gesto e a amava, tão naturalmente como a queria sua por companheira. Foi nesse instante que tudo parou. Susteve-se o Tempo por um segundo, eterno, poético, humano.

Emergiu como algo novo.Sustido, mas ao mesmo tempo animado, frio e de olhar vazio, sem vida, prosseguiu com o seu trabalho. Vítima do seu tempo. eis que a Mãe Sociedade parira mais uma cria, outro autómato. Em prol do progresso tecnológico, em que a carne padece e os cabos e fibras ópticas reinam. Perdeu-se o sonho, o choro ou o canto.

Silêncio, porque se queda novo Fado.