Monday, November 28, 2005
Sunday, November 27, 2005
Saturday, November 26, 2005
Friday, November 25, 2005
Acto 1
Ele sabia do seu Inglês. Nunca precisou de estudar muito. Ocasionalmente pegava nas folhas que a s'tora dava. Rasgadas pelo Fiúças, ou dobradas pelos cadernos ou borradas pela chuva. Uma merda. "Para quê aquilo? Como se nao bastasse ter que gramar as aulas e a s'tora..."
Nas aulas, a conversa do intervalo prolongava-se sempre na sala de aula. "Mas será que ela 'tá a gozar comigo? Fazer os T.P.C.? Vai mas é catar piolhos , ó velha!" A paciência para as aulas de 45 minutos era rara, melhor era não trazer nada, e falar com o pessoal. Os que valem a pena. "Cambada de betinhos, a lamber as botas da cota.Vão-se mas é todos f....!"
As notas era o que bastava. em casa era só o que importava saber. "Menos uma disciplina que preciso de estudar, porque sei que sou bom nesta merda! Ela que não venha com histórias nas aulas, Tiro positiva e ela não me pode tocar."
"Eu sou dono de mim mesmo. A vida é curta...nada de stresses....e ter que vir à escola pra me alterar os esquemas? Nada disso!"
Acto 2
Ele até que gostava do Inglês. A professora falou com o professor de inglês e ambos foram de acordo de que o Filipe pudesse assistir às aulas, apesar de não estar inscrito. Os gastos? Seriam suportados pelo professor e pela escola, a título individual.
A atenção e a participação até que nem eram as melhores. Preferia pensar nos toques na bola que o esperavam lá fora, no intervalo. "Hei-de mostrar ao Vitor e ao Miguel a nova finta que o meu irmão me ensinou.É muito fixe."
Ainda estava a aprender o B-A-Bá (a sua curta vida tinha já um atraso, quantos mais se sucederiam?). O Inglês, apesar de tudo, parecia ser algo de diferente, novo e engraçado. O sorriso com que entrava e saía da sala de aula revelava o interesse, apesar de a atenção na aula não ser a melhor..."e com tantos colegas novos ao meu lado...é difícil."
Chateou-se um dia com o António, porque este o empurrara.
"Ele deu-me um empurrão e eu dei-lhe um pontapé, s'tor." "Vão os dois prá outra sala pensar no que fizeram."
Dois dias depois começou a chamada....e a aula correu normalmente....mas a normalidade tem as suas disparidades. Enquanto os outros iam lá fora brincar o jogo que o professor trouxera para as aulas...uma cadeira vazia denunciava o rapazito que fora castigado.
E à pergunta do professor "Então Filipe, não quiseste vir à aula?", o seu olhar turvara...e desviara-se para o chão... "Não posso. Portei-me mal...."
O segundo aluno foi expulso do Inglês. Era menos uma voz a chatear o professor...mas menos um sorriso no final de cada aula. Ai a porra do Inglês, com tanto Filipe por aí fora...
Thursday, November 24, 2005
Não queria olhar. Preferia estar absorto, noutro lugar, inerte para este mundo. Não me apetecia sentar naquele lugar (com tanto sítio que havia) e fiquei arrependido. Levantar-me seria sinal de fraqueza. Ficar, sinal da minha presença.
Indesejados os dois, os nossos corpos encontraram-se naquele lugar. Não me apetecia, entediava-me o presente, apenas pretendia terminar a refeição.
Era algo familiar aquele corpo, aquela cara, aquelas curvas e contornos. Mas não sabia situar. Calmamente almoçava e o olhar cruzava-se ocasionalmente...havia algo desconhecido naquele reconhecimento estranho. Um onde, um porquê, um quando. E a constante questão: "Onde é que eu já te vi?"
Levantou-se e seguiu o seu caminho. Minutos mais tarde seria a minha vez. Caminhos opostos seguimos, e não nos arrependemos. Não houve carta, telefone,sms ou mesmo, pasme-se, walki-talki ou pombo-correio. Seríamos para sempre dois desconhecidos, transeuntes de tantas vidas que este mundo conta.
Mais tarde, à noite, lembrei-me daquele olhar...foi no dia em que conheci alguém, um corpo. Pensei conhecer a figura diante de mim, mas votou-se ao silêncio e indiferença. O olhar mudara, o sorriso perdera o lugar e a voz o sentimento.
Indiferença. Como desprezo. Lembras-te? Eu recordo aquele dia e hora. Mas é melhor esquecer...enquanto há tempo.
Wednesday, November 23, 2005
Tuesday, November 22, 2005
Um corpo visionei na paragem, na estação, na rua, no banco de jardim...era eu....eras tu, era a certeza da vida que passa por nós.
Ele há dias em que se julga Verão
maduro na hora do silêncio
da voz que insiste em mordê-lo.
Calou-se o barco das suas viagens
e na monotonia do relógio
o Chiado não tem encanto, nem vida.
Foi-se o tempo da chuva tão simplesmente
quanto tivesse sido rezada em vigília sem fé.
E a meia-idade chegou tal como a agenda previra…
in Corpo Ausente
Monday, November 21, 2005
Mergulho na imensidão das palavras e nenhuma me traz a carga semântica que procuro hoje. Amanhã talvez futuro.
Por enquanto fico-me sem P.oder L.er A.lgo (de) N.ovo (e) O.rgânico.
(Tip: Sem Plano dos Cool Hipnoise, porque há ainda boa música em português)
............."And then there was light."
Respiro o oxigénio cibernético. Dou voz às cordas vocais binárias...e alimento o corpo global com mais umas linhas...letras na pedra lascada, a fogo, a ferro, a sopro.
Olho com sentido renovado o corpo que se apresenta...
"O teu olhar retraído lembrou-me
o mar. Azuis foram
as pérolas que apanhámos na
praia a que chamas destino.
E a onda escreveu o futuro,
levou-o consigo e partimos juntos."
in Corpo Ausente