Letters in Store

Tuesday, May 01, 2007

O poder que as palavras têm

Há momentos das nossas vidas em que paramos para contemplar na memória certas palavras em certos contextos e admirar o poder que cada um desses sons, que compõem cada palavra surte em nós um determinado efeito.
Há quem diga que as palavras leva-as o vento, mas quem escreve sabe bem que é impossível desejar tornar a sua alma uma alma errante. As palavras são os filhos e os pais do escritor. São a esposa fiel, ou a amante sensual e traiçoeira nas noites em que queremos escrever e nada perdura no papel.
"Há palavras que nos beijam", há beijos que nos escrevem e inscrevem na memória do eu e dos outros. porque somos únicos e únicas são as palavras que os amantes da escrita usam. Cada palavra é meticulosamente empregue num momento, como uma oferenda num altar: tem o seu propósito e o seu fim. Negá-lo seria negar-se a si mesmo.
Há, contudo, um outro tipo de amante das palavras, mais perigoso e auto-destrutivo. É o sacerdote deste universo da escrita, o poeta. Ama-as como ninguém e aniquila-se por elas. Deseja-as com tanta intensidade que intensamente queria que este dom não fosse seu. Sofre quando as ouve na boca de alguém.Se lhe dizem "Amo-te" ou "Odeio-te", cria em si um mundo onde a força destas palavras é motriz de sentimentos, viagens e emoções.
Quando se ama com tanta força, forçosamente o Verbo escolhe um fim inglório para este servidor: o Esquecimento ou o Infinito. De que vale a pena perdurar nos livros se não perdura o som das suas palavrs na boca dos outros? E que glória há no pó das prateleiras ou nos depósitos bibliotecários?
É...vivemos uma época de trevas, em que amar as palavras que ouvimos e escrevemos são o selo da morte de quem aceitou a maldição de um dia amar tanto a escrita, poetizando...